terça-feira, 24 de julho de 2012

Homem Amieiro



Sonhos são sempre tão confusos. Às vezes a gente sonha que está apaixonado e então acorda, meio distraíd
o, meio sem saber o quê, por quê? Se perguntando onde está...
E novamente fiquei nostalgiada. Fiquei triste por não ser real... E eu, mais uma vez, encontro alguém. Alguém que não existe. Alguém que tampouco é humano... Era, dessa vez, meio planta, meio gigante... Impossível... Impossível.
Era uma floresta densa, linda... Porém obscura... Havia sombras, olhos, vozes... Eu escutava gritos de agonia, gritos de felicidades... Sopros, que me chamavam e me repeliam... Eu corri. Corri. Queria fugir daquele lugar, daquele misto de emoções. Caí... Levantei. Foi quando o vi. Tive medo, como qualquer humana desinformada teria... Corri mais...
- Calma – Ele disse. Com uma voz que eu nunca diria ser sua se eu não tivesse visto seus olhos.
Eu parei, algo dentro de mim ainda me dizia corra... Mas eu fui teimosa, curiosa. Olhei seu rosto, olhei seu corpo. Então vi seu sorriso, sua pele áspera, porém bonita. Seu sorriso era de curiosidade, também... Ele parecia se perguntar : “Quem é essa estranha?” Suas feições eram tão simpáticas, engraçadas.
Eu ainda estava pasma. Olhava para cima. Não sabia porque tinha parado de correr, mas sentia que tinha feito o certo. Também não lembrava como tinha ido parar ali, mas agradeci.

Ele disse “oi”, eu disse “oi”
Ele se ajoelhou, ainda alto demais... Ele era tão enorme. Sim, isso mesmo. Enorme. Resolveu, então, deitar na relva. Ficamos cara-a-cara.
Seus olhos eram de um castanho dourado perfeito. Um castanho que qualquer azul ou verde pareceria preto se comparado. Seu olhar era profundo, bondoso. Percebi que apesar de seu corpo gritar que eu devia teme-lo por seu tamanho, que apesar de meu corpo gritar que eu deveria temer suas mãos, seu rosto me apontava exatamente o contrario. Seu rosto era perfeito, parecia madeira esculpida... Era madeira esculpida....
- Por quê você é tão pequena?
- Sei lá... E você, por quê é tão grande?
- Eu sou normal. Meu tamanho, aqui, é normal.
- E onde é “aqui”?
- Algum lugar aí dentro.
. . .
É nessa hora que minhas lembranças ficam meio confusas... Não lembro de mais nada com clareza.
Lembro-me de em algum momento ele me pôr nas mãos, cuidadosamente, como quem pega algo muito pequeno e delicado... Algo que parecia impossivel ser feito por aqules mãos enormes... Mãos de planta. Galhos... Macias... Quentes... galhos? .
Lembro também de tocar sua face. Tocar seu cabelo negro de espinhos... E não machucava.
Depois estava em seus baços... Sentindo o calor de sua pele... Ele estava menor, eu estava maior. Seus dedos não eram mais galho. Minha pele mais carvalho.
Ele era menos Planta, mais humano.
Eu era menos humana, mais planta.
Não lembro mais nada.
E mais uma vez eu me apaixonei. E mais uma vez eu nem sei seu nome... Queria que fosse real. Queria ve-lo novamente... Meu homem-amieiro. Que não exite. Que não é meu.

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